Devido ao grande número de acesso a esse tutorial postado no site anterior, transcrevo para apreciação aqui a atualização deste post de 2004.

Isolamento acústico do Estúdio

O isolamento acústico é a etapa mais delicada da construção de um estúdio. Vou mostrar a seguir como foi feito esse isolamento na antiga Gyrasom Áudio Produções, empresa que criei a fez parte da minha trajetória profissional na cidade de Porto Alegre (RS).

O Projeto

Tratava-se de uma sala comercial em andar térreo e fundos, o que nos favoreceu em uma série de fatores. Optei pela construção de uma sala “in box” (uma sala dentro da outra). Como o foco principal do estúdio era a captação de instrumentos acústicos como o violão, flauta, sopros e cordas, foi escolhido a madeira como material principal para as paredes internas, por acreditar e entender que sua sonoridade fosse mais adequada ao propósito principal. O projeto levou em conta o melhor aproveitamento da área disponível no local, aliada às proporções ideais de uma sala de gravação. As paredes externas, o piso e o teto que existem no local foram mantidos e tomados como referência e foi construído uma outra sala dentro dessa como narro a seguir:

As dimensões disponíveis no local eram de: 4,5 m de comprimento por 2,9 m de largura e 2.9 m de altura. Depois de calcular os vãos necessários para o melhor isolamento e os nódulos de frequência, optou-se por rebaixar o teto para obter um resultado acústico melhor.

estudio_proj
Na planta baixa acima, as linhas em preto são as paredes existentes no local, o traçado em vermelho é a sala construída em MDF. Durante a execução do projeto foram alteradas algumas coisas como a abertura das portas que ficaram para dentro, e o traçado de algumas paredes foram alteradas, mas não muito diferente do desenho.

f2

A sala original, antes da construção do estúdio.

Foi necessário fazer um tratamento nas paredes e no piso contra a umidade antes de começar o isolamento propriamente dito.

O Piso

Foi feito uma estrutura com caibros de cedrinho 5X5 cm sobre borracha EVA de 15mm de espessura. O espaçamento entre os caibros foi de 60 cm, preenchidos com mantas de lã de vidro de 2 polegadas e por forração que já existia no local. Sobre essa estrutura foi colocado o piso (Placas inteiras de MDF de 20mm).

f3

Detalhes da montagem do piso

As Paredes:

Foram feitas com MDF de 20 mm alternadas com compensado naval de 20 mm também. Elas distam aproximadamente 10 cm da parede original e estão apoiadas numa estrutura de caibros de 5X5. O espaço que fica entre as paredes foi preenchido com mantas de lã de vidro de 2 polegadas. A estrutura que apoia no chão está sobre borracha EVA de 15 mm.

f5

O Teto

O teto do estúdio foi feito com duas placas de MDF de 15 mm coladas a guias de 2,5 X 10 cm, apoiadas sobre as paredes internas. Não existe nenhum tipo de contato com o teto externo nem com as paredes externas ficando a uma distância de aproximadamente 40 cm do teto original. Sobre ele foi colocado mantas de lã de vidro de 2 polegadas.

OLYMPUS DIGITAL CAMERA

Vista do vão entre o teto original e do construído para o estúdio, com preenchimento da lã de vidro.

As Portas

Sem dúvida a parte mais trabalhosa do projeto. Alguma falha nessa etapa, e todo o resto não faria efeito algum. Foram feitas com uma chapa de compensado naval de 20 mm, uma manta de lã de vidro de 2 polegadas e outra chapa de MDF de 15 mm. A união da estrutura foi com guias de madeira de 2,5X 5 cm. Para os acabamentos laterais usou-se MDF de 6 mm preenchido com poliuretano expandido. A tranca ficou por conta do atrito do revestimento em feltro. A espessura total da porta foi de 9 cm. Para facilitar o fechamento, os cantos da porta tiveram uma inclinação de 45°.

f10

O Aquário
Mede 70 X 90 cm e foi feito com um vidro de 8 mm e outro de 6 mm afastados um do outro de 15 a 20 cm (existe uma pequena inclinação em um dos lados). Ambos foram colocados em batentes individuais de madeira e isolados com silicone. Já existia no local uma parede de gesso de 10cm de espessura que separa a técnica da sala de gravação. Um dos vidros foi colocado nessa parede e o outro na parede nova de compensado naval de 20mm.

f11

O Isolamento Final

Todas as frestas entre as placas foram preenchidas com Poliuretano expandido ou silicone, dependendo do tamanho do vão.

O Tratamento acústico:

Depois de todo o isolamento pronto, a sala começou a ser testada para a correção acústica. Foram usados difusores em V* para as médias e altas freqüência e 3 bass trap** de canto para a absorção dos graves indesejáveis. Com o tempo troquei os difusores em V* por outro difusor quadriculado, por ocupar menos espaço.

O resultado do isolamento foi bastante satisfatório. Da sala de gravação para a técnica, foi medido uma atenuação de volume em média de – 47db. Já da sala de gravação para a rua, devido a um espaçamento maior e uma parede extra que foi necessária, foi medido uma atenuação em média de – 65 db. Um resultado bem eficiente para essa técnica de isolamento e tamanho de estúdio.

* Os difusores em V foram feitos com placas de MDF de 6mm. Cada placa tinha aproximadamente 1,2 m por 0,30 m a uma inclinação de 45º cada, formando um painel de 1,20 X 1,20m colocado no centro de uma das paredes. Infelizmente Não fiz o registro fotográfico dessa peça.

** Bass Trap são “armadilhas para os graves” . Essas armadilhas foram feitas fechando os cantos das pareces da sala com mantas de lã de vidro cobertas por uma chapa de compensado de 6mm.

10 Responses

  1. Prezada Letícia, vai depender do tipo de atividade. Já gravei coral com 12 pessoas, mas com instrumentos musicais mais de 5 pessoas já começa a ficar desconfortável. O ideal é para 3 pessoas.

  2. Poxa, fico te devendo essa informação. Já fazem mais de 10 anos e fui fazendo aos poucos, perdi as referências

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *